
DESENVOLVIMENTO
Estímulos no crescimento
Falar com ele muitas vezes, dedicar-lhe tempo e atenção, ler-lhe histórias, elogiá-lo quando se porta bem, impor poucas regras, mas claras… Explicamos-lhe tudo o que pode fazer para garantir o bem-estar do seu filho e estimular os seus progressos.

A investigação confirmou: as crianças nascem competentes e apetrechadas para interagir. Já lá vai o tempo em que a recomendação era deixar o recém-nascido na escuridão e no silêncio. Hoje em dia já ficou claro que os bebés precisam de estímulos, reações e partilhas. Desde as primeiras horas de vida, os bebés demonstram a sua preferência por rostos e vozes humanas. Estão programados para comunicar, uma atividade que, durante os primeiros meses, consiste especialmente em ouvir e encontrar o olhar dos outros, mas que já assume diferentes funções: favorece a criação de sinapses, as ligações entre as células nervosas, que se produzem quando vivemos uma experiência significativa; também permite eliminar o excesso de neurónios com que nascemos, formando o cérebro e a sua potencialidade cognitiva; facilita, ainda, o desenvolvimento da capacidade de autorregulação, a empatia e a linguagem. Como tal, o que podem fazer os pais para estimular a criança corretamente? Explicamos-lhe quais são os estímulos precoces que irão beneficiar o desenvolvimento do seu filho.
FALE COM ELE
Comece cedo, ainda que o bebé tenha somente alguns dias de vida e pareça não entender nada.
O QUE DIZEM OS ESTUDOS
As diferenças de aprendizagem começam logo na primeira infância. Quem o revela e um estudo recente da Universidade de Standford, nos EUA, que comparou um grupo de crianças, a viver em condições de exclusão social e expostas a uma média de 670 palavras por dia, com um outro grupo de crianças, expostas a cerca de 12.000 palavras por dia. As crianças que ouvem um número considerável de palavras durante os primeiros anos conseguem identificá-las mais rapidamente, acumulam um vocabulário mais vasto e aprendem a ler e a escrever com mais facilidade. Resumindo, as diferenças sociais, económicas e culturais também se traduzem em diferenças linguísticas.
O que fazer?
Para estimular o desenvolvimento verbal do seu filho não precisa de qualquer método dispendioso. Só precisa de falar com ele! Como? No início utilize o ‘falar à bebé’, a linguagem que os adultos adotam instintivamente para comunicar com os bebés, que incide especialmente nas vogais e acentua as expressões do rosto. Este tipo de comunicação facilita a compreensão do significado das palavras e também o tom afetivo e emocional. Entre os 9 e os 12 meses, a criança passa da comunicação cara-a-cara para à abertura ao mundo: aponta para um objeto e a mãe repete o seu nome. Aos 12 meses, já é capaz de entender cerca de 50 palavras, que saberá usar por volta do ano e meio, exatamente porque a compreensão precede a produção.
LEIA-LHE MUITAS HISTÓRIAS
A partir dos seis meses pode oferecer ao bebé os primeiros livros ilustrados, com materiais e tamanhos adequados (os livros impermeáveis para o banho, macios, de tecido, etc.), com cantos arredondados e desenhos simples.
O QUE DIZEM OS ESTUDOS
Do mesmo estudo da Universidade de Standford sobre as diferenças na aprendizagem emerge outro dado importante: ler histórias em voz alta, recitar poemas e cantar canções infantis tem efeitos positivos. Aumenta a capacidade cognitiva e da linguagem e favorece a aprendizagem escolar. Definitivamente, permite à criança usufruir de vantagens durante os seis ou sete anos seguintes. A repetição das histórias ajuda a memorizar, tanto as palavras como as relações semânticas e gramaticais que se estabelecem entre elas. Do mesmo modo, as histórias não têm apenas a função de relaxar a criança antes de dormir; a sua estrutura, mesmo nas mais simples, ensina a reconhecer as relações causais e temporais. Além disso, as histórias criam vínculos sociais, permitem partilhar valores (a “moral” da história) e estimulam a imaginação, que, por sua vez, permite procurar soluções para os problemas.
O que fazer?
Os primeiros livros devem ser fáceis de manusear, grandes e com muitas ilustrações, que acompanhem o relato da mãe. Não deve tentar conduzir demasiado a criança com estímulos, e sim dar-lhe tempo para descobrir o que mais lhe interessa e acompanhá-la no seu percurso. Assim que a agilidade da criança o permita, deve deixá-la folhear o livro sozinha. Lembre-se de que a sua presença tem o valor acrescentado da leitura.
OUÇA-A
Ainda não fala, mas já é capaz de lhe comunicar as suas necessidades. É importante dedicar tempo a observar a criança para aprender a decifrar as suas mensagens e poder responder às suas solicitações, consolá-la quando está triste, ajudá-la quando se sente frustrada e partilhar das suas pequenas alegrias e do seu entusiasmo.
O QUE DIZEM OS ESTUDOS
O medo de não ser capaz de interpretar as mensagens do bebé é algo habitual em todos os pais recentes. Mas o instinto está do seu lado. Segundo uma investigação do Departamento de Psicologia da Universidade de Milão-Bicocca, em Itália, ao ser pais, tanto homens como mulheres adquirem especial capacidade para interpretar o choro e as expressões faciais do recém-nascido. Também demonstram maior capacidade de identificar as emoções de bebés vistos em fotografias, e conseguem, mesmo, diferenciar vários níveis de mal-estar e sofrimento.
O que fazer?
Ouvir um recém-nascido significa prestar atenção ao seu chilreado, às expressões faciais, ao tipo de choro e de movimentos. Um recém-nascido não sabe esperar, precisa de respostas imediatas. Mas, isto não significa que deva satisfazer todos os seus desejos sempre e indiscriminadamente, mas sim fazê-lo sentir que tem a sua atenção. Aos 10-12 meses não há necessidade de acorrer imediatamente quando a criança chama, pode guiá-la através da sua voz: “Estou aqui. A papa está quase pronta…”, com o fim de lhe ensinar a esperar.

TENHA A SUA CASA SEMPRE ABERTA
Nesta era do filho único, é importante que a criança tenha sempre possibilidade de interação social, para além do contacto com os pais e os avós.
O QUE DIZEM OS ESTUDOS
Segundo um estudo recente, viver num grupo numeroso e estruturado estimula as zonas cerebrais (a amígdala e algumas zonas do córtex cerebral que lhe estão ligadas) responsáveis pelos mecanismos de relacionamento com os outros.
O que fazer?
A mensagem que deve transmitir ao seu filho é a de que o mundo está cheio de amigos que pode descobrir e conhecer, e não repleto de inimigos dos quais precisa de se defender. Como tal, deve dar via verde às situações de socialização, assim como ao ato de frequentar uma creche. Os pais podem organizar-se para ir buscar as crianças por turnos, para que se habituem a estar com pessoas que não pertencem ao núcleo familiar. Também é conveniente que a sua casa esteja aberta a outras crianças e aos seus respetivos pais, preparando lanches e festas. É bom que a criança cresça num ambiente aberto e acolhedor, sem preconceitos porque só assim se poderá converter num adulto capaz de interagir num mundo cada vez mais complexo, multiforme e multicultural. Os amigos dos pais contribuem para criar uma pequena comunidade de adultos de referência, com quem as crianças sabem que podem contar quando necessitam. E se quiserem fazer uma escapadela romântica não terá de confiar a criança necessariamente aos avós. Pode recorrer a uma baby-sitter de confiança com total tranquilidade.
AJUDE-A A ACREDITAR EM SI MESMA
Elogie-a quando realiza uma tarefa ou quando se porta bem e ensine-a a não desistir perante as dificuldades.
O QUE DIZEM OS ESTUDOS
Receber um reforço positivo por um comportamento correto é mais eficaz do que recorrer a ameaças e castigos, mas sempre com equilíbrio. Segundo uma investigação publicada na revista Scientific American, a educação baseada em elogios exagerados não ajuda a desenvolver uma personalidade equilibrada, já que transmite às crianças a ideia de que apenas se é amado quando se corresponde às expetativas dos pais. Em vez de permitir que cresçam mais seguras, torna-as mais fracas.
O que fazer?
O elogio é benéfico desde que bem administrado e relativo a um comportamento verdadeiramente merecedor, sem cair no seu uso rotineiro. Em suma, como todas as coisas que têm valor, não deve ser exagerado. Os elogios devem sempre ser relativos aos comportamentos e não à criança no seu todo. É preferível dizer “Fizeste um desenho muito bonito” em vez de “És o melhor de todos a desenhar”. O que deve valorizar é o esforço efetuado e não tanto o resultado em si. Do mesmo modo, ao ver que a criança tem dificuldade, não deve intervir imediatamente para resolver o problema. Faça-a sentir que está presente e encoraje-a, mas deixe-a encontrar sozinha a solução. Assim incentiva a criança a não se deixar vencer pelos obstáculos e a perceber que é capaz de fazer as coisas sozinha.
DÊ-LHE MUITOS MIMOS
Dar-lhe beijinhos na barriga, pegar-lhe ao colo, e pele com pele, e embalá-lo são ações naturais, derivadas da paixão recíproca que se instala entre a mãe e o seu bebé durante as primeiras semanas de vida.
O QUE DIZEM OS ESTUDOS
A necessidade de contacto é uma questão de sobrevivência biológica. A obra de John Bowlby, publicada após a Segunda Guerra Mundial, é já um clássico sobre o tema. Bowlby descreve a fragilidade do sistema imunitário de bebés internados em orfanatos, em condições de total privação de ternura e mimos, até ao ponto de ter influência na taxa de mortalidade. Outra das experiências que fizeram escola foi a dos “macacos de Harlow”: mantidos sem comida durante um dia, foram-lhes oferecidos dois bonecos; um deles de arame, e com comida no interior, e o outro de felpo, mas sem comida. Apesar de a alimentação ser uma das necessidades primárias por excelência, a necessidade de ternura prevalece mesmo nos macacos, já que escolheram o boneco macio.
O que fazer?
Deixar-se guiar pelo seu instinto e pelo prazer do contacto com o seu filho. Mimá-lo, acariciá-lo e fazer-lhe massagens, deve ser um prazer para os dois. Alem disso, os beijos e as carícias da mãe relaxam o bebé quando ele se sente nervoso e aliviam as cólicas. Pode fazer um curso de massagem infantil e utilizar óleos essenciais. No entanto, recorde sempre que o valor mais importante para o seu filho não é a técnica e sim o contacto com a sua pele, que também é milagroso mesmo nas consultas com o pediatra: se estiver junto a ele enquanto o médico o observa, a experiência não será vista como intrusiva.

BRINQUE COM ELE
Brincar é fundamental para o desenvolvimento, para além de ser também um direito reconhecido pela ONU no âmbito dos direitos da infância e da adolescência.
O QUE DIZEM OS ESTUDOS
Estudos realizados nos kibbutz israelitas (cooperativas agrícolas onde as crianças são criadas em comunidade e não em família) concluem que, para as crianças, as figuras de referência não são aquelas pessoas com quem passam mais tempo, mas sim aquelas com quem brincam e interagem. O que revela muito sobre a importância dos jogos no desenvolvimento e na construção da identidade.
O que fazer?
Frequentemente os pais têm receio de não ter tempo suficiente para brincar com os filhos, mas, na verdade, não existe a “hora de brincar”, entendida como uma espécie de matéria escolar. Pelo contrário, é preciso encontrar muitas ocasiões de brincadeira incluídas na rotina diária. Por exemplo, ao mudar a fralda pode fazer-lhe festinha, fazer cú-cú e emitir diferentes tons de voz. Quando a criança crescer e desenvolver alguma autonomia de movimentos, dê-lhe a oportunidade de a imitar e explorar o mundo. Está a cozinhar? Dê ao seu filho uma taça com água e uma mão cheia de farinha para fazer um “bolo”. Hora da limpeza? Deixe que ele a siga com um pano do pó. Não tenha receio de lhe propor estímulos gratificantes: uma criança com menos de 18 meses não se aborrece por brincar sempre à mesma coisa.
ESTABELEÇA REGRAS E LIMITES
A criança precisa deles desde o nascimento, desde que consiga fazê-la entender que compreende as suas dificuldades, a sua raiva e frustração e que está pronta para a consolar.
O QUE DIZEM OS ESTUDOS
A partir do registo da atividade cerebral efetuado por ressonância magnética e tomografia por emissão de prositões (PET) foi possível comprovar que as crianças criadas neste tipo de relação, de autoridade mas empática, apresentam, na adolescência, uma maior atividade dos lóbulos parietais, os responsáveis pela produção de serotonina e endorfinas, as hormonas do bom humor. Pelo contrário, as crianças que crescem sem regras ou limites, longe de ficar mais relaxadas e satisfeitas, demonstram uma maior atividade nos lóbulos frontais, onde se produz o cortisol, a hormona do stress.
O que fazer?
As regras devem ser poucas, mas razoáveis, coerentes e adequadas à idade da criança. Os pais não devem transformar o processo educativo numa prova de força. Antes pelo contrário, a sua função é a de ajudar a criança a sentir-se contida, protegida das mudanças de humor e dos impulsos, bem como a suportar a frustração, a esperar e, até, a renunciar. Por outras palavras, ajudar a criança a transformar as emoções. Impor regras não significa educar rigidamente e sem alegria. Pelo contrário, deve tentar rir o mais possível com o seu filho e criar em casa um ambiente de bom humor. Todas estas vivências irão fazer parte de um pequeno património agradável e feliz, ao qual se pode recorrer nos momentos difíceis.
PERGUNTA SOBRE… Os benefícios do iodo Vamos explicar-lhe porque é tão importante garantir os níveis adequados deste nutriente também responsável pela saúde física e mental de adultos e crianças. 1 Os especialistas insistem na importância do iodo na alimentação das crianças. Porque é tão importante? 2 Existe informação suficiente a este respeito? 3 A população portuguesa encontra-se em situação de risco de insuficiência de iodo? E quais são os alimentos que o contêm?

O iodo é fundamental para o correto funcionamento da tiroide, a glândula vital para o desenvolvimento psíquico, intelectual e motor. Quanto mais precoce for a sua carência, mais graves são os problemas: um baixo nível de iodo durante a gravidez pode provocar um défice neurológico no bebé, o que se traduz em problemas como o atraso da linguagem, dificuldades de aprendizagem e um ligeiro tremor nas extremidades do corpo. Está demonstrado que os filhos de mulheres com um nível hormonal tiróideo mais baixo durante a gravidez podem ter um coeficiente intelectual inferior aos filhos de mães com um nível mais alto desta hormona.
Infelizmente não. Nem sempre se informa sobre a utilização adequada do sal iodado, apesar de o seu consumo ser aconselhado e não ter qualquer efeito negativo, inclusive nas pessoas que sofrem doenças da tiroide. Um pouco de sal iodado (cerca de 5g por dia) consumido nos alimentos proporciona a quantidade suficiente de iodo e não aumenta o risco de sofrer hipertensão.
Sim, Portugal está incluído na lista de países em situação de insuficiência de iodo, sendo a Madeira a zona com o índice mais alto. É necessário introduzir este mineral através dos seguintes alimentos: peixe de mar, crustáceos, moluscos e algas. Os suplementos de sal iodado ou o consumo de complementos de iodo são convenientes para todas as faixas etárias, mas, especialmente, durante a gravidez e a amamentação.
PERGUNTA SOBRE… Combater as estrias A melhor arma é a prevenção. Trazemos-lhe quatro passos sobre cuidados específicos para reforçar a pele e conseguir que esta resista à gravidez. Porque se formam as estrias Cuidado com a balança! Alimentação: vitaminas no poder! Hidratação diária

Para além dos fatores hormonais, existe uma predisposição na constituição física que determina a maior ou menor elasticidade da pele em algumas mulheres. Tudo indica que a pele das mulheres mais jovens é mais recetiva à atividade hormonal e que essa capacidade tende a diminuir com o passar dos anos. Isto explicaria porque algumas mulheres têm muitas estrias na puberdade e o seu número não aumenta durante a gravidez, ou porque algumas mulheres de vinte anos têm mais estrias na gravidez que outras mulheres, mães pela primeira vez depois dos 35. Para além da idade é preciso ter em conta o fator mecânico, que determina que se formem estrias com mais facilidade em períodos em que a pele é submetida a tensões rápidas.
As estrias formam-se mais facilmente durante as fases nas quais a pele é submetida a tensões repentinas: durante a adolescência, na gravidez e ao sofrer um aumento de peso considerável. Quanto maior for esta tensão, mais facilmente se podem quebrar as fibras elásticas que constituem a pele, especialmente nas zonas que aumentam mais de volume durante os nove meses da gravidez, como a barriga, as ancas e o peito. É evidente que o crescimento da barriga é natural e inevitável, mas o peso a mais, sim, pode ser evitado. Este conselho é mais valioso à medida que passam os anos, já que a idade é um fator que aumenta a tensão mecânica.
Não existe um tipo de alimentação anti-estrias propriamente dito, mas alguns alimentos podem ajudar a preservar a juventude e a elasticidade da pele, começando pelos alimentos ricos em substâncias antioxidantes, como as vitaminas C e E, presentes na fruta, nas verduras, nos legumes e óleos vegetais. Em relação à vitamina C, que reforça as células e por consequência também os fibroblastos, temos acesso aos resultados de um estudo turco recente que concluiu que as futuras mães com níveis mais elevados de vitamina C no sangue estavam menos expostas à formação de estrias.
Uma das principais formas de prevenção das estrias é a de manter a pele constantemente hidratada, para aumentar a sua elasticidade e resistência desde os primeiros meses de gestação, mesmo antes de a barriga começar a crescer.
Quais são os produtos cosméticos mais indicados? Os cremes que contêm óleos vegetais. São bastante adequados, por exemplo, os produtos elaborados à base de óleo de amêndoas doces, jojoba, karité, abacate, gérmen de trigo e azeite virgem, rico em oleocanthal, um potente anti-inflamatório que ajuda a repor as propriedades da pele. A manteiga de coco também parece ser um tratamento eficaz, mesmo para as mães que aumentam muito o seu peso.
GRAVIDEZ STOP aos preconceitos depois dos 35 Esperou muito tempo antes de tomar a decisão, e, agora, os medos são tantos que quase superam a alegria. A consciência da maturidade é um bom recurso! Cada vez são mais e estão menos dispostas a aceitar o rótulo de “grávidas tardias”. Falamos das futuras mães com mais de 35 anos e que já representam 32% das mulheres que têm filhos. Autoconfiantes, são ativas, estão em forma e plenamente entusiasmadas pela experiência da maternidade que estão a viver. Por vezes, a alegria e a motivação vêm acompanhadas de preocupações e incertezas. Alguns destes receios estão relacionados com o impacto da gravidez e as inevitáveis modificações a nível físico, psicológico e social. No entanto, existem outros medos, gerados por um excessivo acompanhamento médico, que se centra mais nos riscos do que nos aspetos positivos da maternidade depois dos 35 anos. A seguir, vamos desmistificar alguns dos preconceitos que ainda circulam sobre este tema e analisá-los desde outra perspetiva. O objetivo é o de saborear cada momento da gravidez no seu sentido mais profundo, valorizando os recursos pessoais de cada mulher, sem esquecer a necessidade de controlar os possíveis riscos. A GRAVIDEZ A PARTIR DOS 35 APRESENTA SEMPRE MAIS RISCOS? A PARTIR DOS 35 ANOS, A MULHER NÃO TEM LEITE? REDUÇÃO DA FERTILIDADE A CESARIANA IMPLICA MENOS RISCOS PARA A MULHER MADURA? QUANTOS MAIS ANOS PASSAM, MAIOR É O RISCO DE DEPRESSÃO? OBRIGADO POR LER

Os riscos dependem do estado geral de saúde e da idade biológica, mais do que da idade cronológica. As mulheres de 40 anos dos nossos dias são muito diferentes das de outros tempos, que a essa idade já tinham passado por várias gravidezes. Atualmente as mulheres cuidam da sua alimentação, praticam desporto e, só pelo facto de terem concebido, considera-se que gozam de boa saúde a nível de reprodução. Por outras palavras, o tipo de vida que adotamos é mais importante do que a data de nascimento. Isto não significa que se possa escamotear os problemas, mas sim que não deve generalizar-se nem considerar a idade, por si só, um fator de risco. Porém, também é verdade que as mulheres com mais de 35 anos costumam ter uma vida cheia de obrigações, às quais habitualmente lhes custa renunciar.
Por essa razão devem proteger-se do stress e das patologias a ele associadas, como a diabetes e a tensão alta. Não é necessário um repouso absoluto, a não ser que existam complicações que obriguem a tal. Basta aprender a ouvir-se a si mesma, viver num ritmo mais relaxado e regular e identificar as verdadeiras necessidades, como continuar a fazer as coisas de que gosta (trabalho incluído), já que tudo aquilo que traz satisfação e realização é positivo. Resumindo, é fundamental que usufrua da sua gravidez, que talvez seja o resultado de uma nova relação ou a consolidação feliz da relação de sempre. Saborear estes nove meses também é vivê-los por aquilo que significam e não como um dever social que é necessário cumprir antes que o relógio biológico decrete o fim da fertilidade.
Hoje sabemos que a amamentação não se relaciona com a idade e sim com uma estimulação correta da glândula mamária e com a aplicação de boas práticas após o parto, ou seja: pôr o bebé ao peito assim que nasce e permitir que o recém-nascido permaneça no quarto da mãe durante as 24 horas. Um parto fisiológico também ajuda ao bom início da amamentação, no entanto, o mesmo é possível depois de uma cesariana. É recomendável ter a supervisão de uma enfermeira especializada, relativamente à amamentação, durante os primeiros 8 a 10 dias, o suficiente para a mãe se familiarizar e ter confiança no seu próprio corpo.
Ainda que a gravidez seja teoricamente possível até ao início da menopausa, a probabilidade de conceber diminui consideravelmente a partir dos 35 anos. Por volta dos 43 anos, muitas mulheres iniciam a chamada “perimenopausa”, durante a qual continuam os ciclos menstruais, mas praticamente já não se produzem células zigoto. Nestes casos, a percentagem de sucesso de uma fecundação artificial é escassa, a não ser que se recorra a uma doação externa de óvulos. No entanto, também é verdade que o que sucede no relógio biológico de cada mulher não depende apenas da idade. Por esta razão, é necessário que os médicos forneçam informação às mulheres que adiam a sua maternidade, mas que não a excluem, para que estas possam decidir se querem esperar e durante quanto tempo.
Em muitos casos, às mulheres que têm o seu primeiro filho com uma idade avançada é-lhes feita uma cesariana, quase como uma “rotina”, normalmente, com o pretexto de que assim existem menos riscos. Para além da ansiedade intrínseca desta afirmação, não é verdade que o parto por cesariana seja menos arriscado do que o parto vaginal, já que se trata de uma intervenção cirúrgica, com mais complicações para a mãe e para o bebé. Então, qual é a lógica desta fé na cesariana? Porque proporciona uma falsa sensação de controle, enquanto que a dilatação e o parto apresentam mais incógnitas. O que não significa que seja necessário excluir a cesariana, mas sim que apenas se deve recorrer a este meio quando as condições médicas assim o exigem. O conselho para as mães que ultrapassam os 35 anos é o de utilizar as suas competências sociais, adquiridas precisamente graças à idade, para se informar e tomar decisões de forma consciente. A esta idade dispõe-se de mais instrumentos culturais e psicológicos para decidir, com um papel mais ativo em vez de simplesmente “aceitar”. É aconselhável ter a ajuda e a participação ativa do outro membro do casal. A gravidez, aos 40, costuma provocar uma sensação de euforia e de omnipotência; a mulher sente-se forte, autossuficiente, e a tentação de fazer tudo sozinha é grande. Por vezes, nem sequer se apercebe de que está a excluir o companheiro. O mesmo pode suceder no período do pós-parto que, independentemente da idade da mulher, é uma fase muito sensível.
Não se trata de uma questão de idade, mas sim de capacidade de adaptação às modificações. Uma mulher adulta, com uma vida social já estruturada e ativa pode chegar a sentir-se isolada depois de o bebé nascer. A este aspeto junta-se uma sensação de vulnerabilidade, absolutamente normal, mas que não deixa de ser nova e pode assustar. Este é um processo emocional que não convém viver sozinha, é preferível estar rodeada de pessoas capazes de lhe oferecer proteção. Se não existem pontos de referência no círculo da família e dos amigos, uma excelente alternativa é frequentar um grupo pós-parto. Também é bom recordar que, entre “modificar tudo” e “não modificar nada”, existe um saudável meio termo. Não deve fechar-se em casa, mas sim criar ocasiões sociais nas quais possa participar com o bebé.
O MEU BEBÉ
Irá receber o seguinte número da revista
na próxima semana

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